A rebelião dos humanos

Gabriel Garcia de Oro

Inteligência Artificial, Big Data, assistentes virtuais … O que fazer em um mundo onde as máquinas não apenas farão nosso trabalho, mas farão ainda melhor? Bem, isso, faça nosso trabalho, de verdade. É chegado o momento de aproveitar este tempo para dedicar tempo a todos aqueles que nos tornam humanos.

Com o surgimento, no século 19, das primeiras máquinas surgiram os primeiros temores de que a industrialização acabasse com o ser humano. A preocupação era que aquelas monstruosidades metálicas, como se tivessem saído do sonho futurista de Victor Frankenstein, nos dobrassem, nos dominassem, nos subjugassem.

Hoje, em plena transformação digital, esses terrores se transformaram. Não pensamos mais que as máquinas vão nos escravizar, mas vão nos substituir no nosso trabalho. As máquinas serão mais fortes, mais rápidas, mais capazes, mais inteligentes …

O valor da emoção

Pela primeira vez na história da humanidade, nos sentimos anões e autoconscientes. O que fazer? O que muitos estão fazendo: rebelde. Não será a rebelião das máquinas, como imaginamos na ficção científica dos anos 50, será dos humanos e consistirá em desenvolver tudo o que, precisamente, nos torna humanos.

A creatividade. A poesia. A pintura. Arte em geral, que pode ser definida como aquela atividade, seja ela qual for, que serve de veículo de expressão, de conexão conosco e com os outros. E tem mais. Tudo o que nos faz ter empatia, ou seja, cuidar e nos preocupar com o ser humano, seu desenvolvimento e seu bem-estar.

Contra robôs, humanidade

Descobri-lo é o primeiro passo, desenvolvê-lo é o segundo. Essa é a rebelião. Bill Gates, por exemplo, é um rebelde. O fundador da Microsoft já alerta que os governos terão que tomar medidas para manter a sociedade funcionando, como robôs pagando impostos. A União Europeia já está pensando em como resolver esse aspecto fiscal.

Mas a grande maioria de nós não é legisladora. Somos cidadãos comuns. Pessoas. E, como tal, temos que ver o problema como uma oportunidade. Se as máquinas nos liberam de parte do trabalho, o que fazer com esse tempo liberado? Se 75 milhões de empregos serão eliminados em 2025, como podemos usar esse novo espaço a nosso favor? Da única maneira que conhecemos. Sendo humano, muito humano.

Porque a inteligência artificial é confrontada com a inteligência emocional. Com viver, compartilhar e compreender sentimentos, humores. Com o desenvolvimento da escuta ativa e, desta forma, ser capaz de compreender o que acontece ao outro de forma profunda. Com ideias malucas. Incentive a criatividade. A curiosidade e o espanto, que Aristóteles disse não em vão, estão na base de qualquer pensamento filosófico.

Assim, a inteligência artificial é confrontada com a inteligência emocional.

  • Vivendo, compartilhando e compreendendo sentimentos e humores.
  • Desenvolver a escuta ativa e, assim, compreender o que acontece ao outro de forma profunda.
  • Ter ideias malucas, impossíveis e ilógicas, como todas aquelas que têm um impacto real na sociedade.

Já estamos nos rebelando contra a IA

Apesar do pessimismo que se instalou nos discursos mais oficiais, já estamos percebendo tudo isso, já estamos nos rebelando. De que outra forma se pode explicar que, afinal, o formato de livro voltou a crescer em vendas? Como se entende o surgimento de escolas de criatividade, de expressividade corporal, plástica, musical? Ou o crescente interesse pelo mercado de emoções, para ensiná-las aos nossos filhos e para trabalhar e praticá-las?

É entendido a partir daí, da resistência. Do desenvolvimento do humano. Da resposta. Não esqueçamos que a raiz operante é tripalium que significa “três varas” e era assim que se conhecia um instrumento de tortura com três estacas (varas) a que o prisioneiro estava amarrado. É daí que vem o trabalho. Tortura.

E este não é o lugar para desenvolver essa questão, mas sim, talvez, considerar que se as máquinas tiram um pouco do nosso trabalho, no fundo estão nos ajudando. De tortura. Claro, teremos que fazer nossa parte. E quem sabe, talvez isso não seja uma rebelião, ou uma revolução … simplesmente, mais um passo em nossa evolução como seres sencientes neste planeta.

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