Você sabe o que é solastalgia?

Claudina navarro

Você olha ao seu redor e o que vê o perturba. Com o transtorno de déficit natural, ficamos tristes com as mudanças que ameaçam os ambientes naturais ou os lugares onde crescemos.

A relação entre os seres humanos e a natureza está em conflito há séculos, talvez milênios. Ainda não sabemos se queremos nos reintegrar na natureza mais pura possível ou criar um mundo à nossa medida.

Mas que sentimentos nossa relação com o meio ambiente gera em nós aqui e agora? Você olha ao seu redor e sente que algo está errado. Tem árvores, verde, céu azul, mas algo na paisagem te deixa triste. Você sofre de solastalgia.

Quando as mudanças que ameaçam a natureza nos deixam tristes

A verdade é que, como seres vivos, mantemos um vínculo, mais ou menos consciente, com o que chamamos de natureza. Ainda respiramos oxigênio, comemos nutrientes naturais e os produtos químicos muitas vezes nos fazem sentir mal.

E, como mostram estudos científicos, a grande maioria, em um ambiente natural seguro, tende a se sentir muito melhor do que cercada por concreto e barulho.

Transtorno de déficit natural

Podemos sofrer de um "transtorno de déficit natural", um conceito cunhado por Richard Louv em seu livro The Last Children in the Forest (Ed. Captain Swing). Louv, que também escreveu Back to Nature (Ed. RBA), associa esse transtorno ao aumento dos casos de transtorno de déficit de atenção, obesidade e depressão, entre outras condições.

A solastalgia é outra condição relacionada ao nosso relacionamento com a natureza que pode ser melhorada. O termo foi criado em 2003 por Glenn Albrecht, agora professor aposentado de sustentabilidade na Murdoch University, Austrália.

Para Albrecht, solastalgia é o sentimento de tristeza, angústia ou melancolia que surge como resultado de mudanças negativas em um ambiente que sentimos como o nosso.

Solastalgia ameaça topofilia

O meio ambiente, a paisagem devem ser fonte de satisfação. Muitas pessoas ainda têm "topofilia" ou amor pelo lugar onde cresceram ou vivem.

Mas a topofilia vira solastalgia quando uma usina termelétrica feia e poluente aparece naquele local, a floresta queima ou parece abandonada, desolada.

O solastálgico sente que é uma mudança que não desejou e que o fez perder algo - a paisagem que era sua, a sua casa - irreversivelmente.

A solastalgia é semelhante à nostalgia, mas é sentida pelo presente e por estar em casa. Esse sentimento se tornou tão comum devido às mudanças sem fim na era da globalização que precisava de uma palavra.

Uma expressão que reflete a realidade de nossa experiência

É utilizado em textos acadêmicos, em trabalhos artísticos, em blogs e em conversas entre pessoas comuns, pois o conceito solastalgia reflete uma experiência real e frequente. E com toda probabilidade irá mais longe.

As mudanças climáticas, a urbanização, a produção incessante de plásticos e outros materiais sintéticos e a onipresença da tecnologia já alteram e irão alterar ainda mais tudo o que conhecemos. O medo de tal futuro também tem um nome: pavor global.

Na pior das hipóteses, algumas terras serão inundadas com a elevação do nível do mar. Outros vão secar. O fraturamento hidráulico, a mineração, grandes extensões de monoculturas ameaçarão paisagens que as pessoas sentem que fazem parte de si mesmas.

Como curar a solastalgia?

Albrecht se propõe a neutralizar toda essa solastalgia com outros sentimentos de apego à natureza e à vida.

Esses sentimentos também podem ser nomeados: biofilia (amor ou afinidade com os vivos), topofilia (afeição pelos lugares), ecofilia (pelos ecossistemas), solifilia (amor pela solidariedade) e eutierria (sentimento de unidade com a Terra e o resto da vida).

Podemos lutar pela conservação, recuperação e reabilitação do nosso meio ambiente. Com isso cuidaremos também da nossa saúde mental e emocional.

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