Tudo o que fazemos para não pensar

Sabemos que no silêncio a criança que éramos e mandamos ficar em silêncio aparece. Aquele menino que sempre esteve aqui. Isso nunca foi embora. Ao que devemos uma grande explicação.

A voz de Roy Galán é um podcast do escritor Roy Galán para a revista Mentesana. Ouça e compartilhe.

Nós nos acostumamos com chutes de adrenalina.
Viver pulando de um estímulo para outro.
Na hipnose de ruídos e luzes coloridas.

Outra marcha que você não vai lembrar.
Outra série que você vai esquecer.
Mais um pó como aquele que arranca algo do corpo.
Outra nova foto para ver se tem mais curtidas.

Tornamo-nos viciados em sentimentos fugazes.
A essa ascensão que nos faz acreditar que viveremos mais se as emoções ficarem mais fortes.
Se preenchermos o tempo com coisas e pessoas.

Mas não é verdade.
Fazemos tudo isso para evitar pensar.
Para nunca estar sozinho com nossas cabeças.

Porque aí não podemos enganar ninguém.
Lá conhecemos nosso vazio e nossa angústia vital.
Então, cobrimos tudo.

Não queremos nos ver.
E a única coisa que nos acalma é a evasão.
Temos um momento e o que fazemos com ele é sair do corpo novamente.

Para o desejo que parece nunca se extinguir.
Abrimos outro aplicativo e escolhemos o que comer agora.
Qual rosto nós mais gostamos.

Nós brincamos um pouco, nos sentimos bem.
Colocamos um tweet engraçado.
Eles nos aplaudem.

Sentimo-nos ainda melhor.
Começamos a ver um capítulo que não sabemos se estamos interessados ​​nele, mas o deixamos lá.
Porque teremos que conversar sobre alguma coisa, certo?

Anestesiámo-nos por medo de que, ao ouvirmos uns aos outros, só haja um eco.
Medo de descobrir que somos uma fraude.
Medo de admitir que às vezes o fizemos fatal.
Medo de acertar essa conta com nossa história.

Porque sabemos que no silêncio a criança que éramos e mandamos ficar em silêncio aparece.
Aquele menino que sempre esteve aqui.
Isso nunca foi embora.
Ao que devemos uma grande explicação.

Por que não cumprimos nossa promessa à medida que envelhecíamos.
E sobre por que o traímos dessa maneira terrível.

Talvez seja hora de encerrar esse aplicativo.
Para desligar a TV.
Para pegar aquela criança pela mão.
E peça perdão.

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