"Existe uma demanda por espiritualidade"
Francesc Miralles
Entrevista com Agustín Pániker, editor da Kairós e autor de ensaios sobre espiritualidade na Índia. Fala sobre espiritualidade para o dia a dia.
Kairós , a editora dirigida por Agustín Pániker e fundada por seu pai, o engenheiro e filósofo Salvador Pániker, tem hoje 50 anos.
Agustín Pániker é um exemplo vivo da confluência do Oriente e do Ocidente na mesma alma, algo que ele conseguiu trazer para o catálogo Kairós, que há mais de meio século fornece aos leitores uma sabedoria dos dois mundos.
─ Você é filho de Salvador Pániker e sobrinho de Raimón Panikkar, como você cresce em um ambiente tão espiritual?
─ Provavelmente a educação que recebi de meu pai era um pouco diferente da das outras crianças, embora não parecesse assim para mim.
Meu sobrenome marcou-me para melhor e para pior, porque me reconheceram como filho e sobrinho desses filósofos, mas, por outro lado, esperavam que eu tivesse o mesmo discurso místico. Sou um editor que gosta de divulgar suas ideias, que têm como foco a Índia.
Espiritualidade prática do Oriente adaptada ao Ocidente
─Kairós está intimamente relacionado à psicologia transpessoal, você acha que esse gênero ainda está na moda?
─ O termo transpessoal foi inventado por Maslow, que não tinha relação com religião.
Visa uma introspecção que extrapole o paradigma psicanalítico, comportamental ou mesmo humanista, incorporando dimensões místicas e meditativas.
Talvez hoje a psicologia transpessoal não tenha o tom vanguardista dos anos oitenta de autores como Wilber, Grof, Wals ou Vaulhan, mas há uma nova abordagem para outras correntes da psicologia profunda. Eu não a considero morta.
─ Seu catálogo presta muita atenção ao budismo e à meditação. Você tem interesse em aprofundar-se nesses tópicos?
─ Sim, existem três linhas que convergem.
Por um lado, meu interesse pessoal, porque me sinto muito próximo do budismo e de suas tradições meditativas; de outro, Kairós, que carrega em seu DNA a introdução de filosofias, pensamentos e tradições orientais; e, por fim, o fato de hoje haver mais demanda por espiritualidade prática. Somos pioneiros na publicação de mindfulness como uma consequência lógica de termos publicado anteriormente sobre o budismo.
─ Em quais outros tópicos você está interessado?
─Talvez agora, porque tenho filhos relativamente pequenos, estou interessado em toda a matéria pedagógica.
─ O que você acha das chamadas "escolas alternativas"?
─ Gosto muito deles, o que não gosto é o nome alternativo porque os coloca à margem da sociedade.
Waldorf, Montessori ou outros métodos deveriam ser incluídos na educação comum, e deveria haver menos obsessão com o currículo escolar, o relatório do PISA e toda essa competitividade. Os resultados são avaliados apenas porque a inteligência emocional não é quantificável. A obsessão pelos exames, pelo quadro-negro e pelo professor me parece de fato antipedagógico.