Por que a atenção plena funciona?

Anna R. Ximenos

Grandes avanços na neurociência mostraram que o cérebro pode se transformar, que pode gerar novos neurônios, em resposta à experiência. A plena atenção nos permite transformar nossa mente.

Em 1970, o médico americano Jon Kabat-Zinn, vendo que seus pacientes não melhoravam com a medicina convencional, passou a se aproximar da atenção plena e, após verificar seus efeitos benéficos, passou a introduzi-la nos serviços de saúde. Desde então, essa técnica oriental foi integrada à medicina ocidental. Por que isso funciona? A neurociência mostrou que a atenção plena é muito mais do que apenas uma técnica de relaxamento e que apoia a saúde mental em várias frentes.

Ajuda a nos livrar do ruído mental

Ellen Langer, psicóloga social, foi a pioneira em nos alertar sobre os custos físicos e mentais envolvidos na aceleração de nosso ritmo vital que vem acompanhado de novas tecnologias. O ruído mental contínuo em que estamos imersos nos impede de vislumbrar as possibilidades de nossa mente e, na prática, supõe que nossa maneira de se comportar é atormentada por momentos de atenção plena, esquecimento ou inconsciência, um conceito oposto à atenção plena (literalmente, "estado de plenitude de a mente").

Langer também enfatiza a importância do contexto. Em um experimento realizado em uma clínica geriátrica, um grupo de idosos foi encarregado de cuidar de algumas plantas e se responsabilizar por decisões que afetavam seu dia a dia. Um ano depois, eles estavam mais alegres, ativos, despertos e longevos do que o resto.

Assim, mindfulness envolveria o processo de estar ativo e conscientemente aberto a novas experiências, de ser capaz de renunciar a hábitos e atitudes preconcebidas e de agir de acordo com essas novas observações.

Transforme nosso cérebro

Os grandes avanços da neurociência apóiam a tese de Langer e demonstram que a capacidade do cérebro de mudar e transformar, de gerar novos neurônios e conexões neurais em resposta à experiência, é mantida ao longo da vida.

Desde o início, o desenvolvimento neural do cérebro é construído nas trocas íntimas entre o bebê e aqueles que cuidam dele. Quando os adultos estão em sintonia com a criança, quando refletem uma imagem precisa de seu mundo interior, ela pode sentir sua própria mente com clareza.

Ao longo da nossa existência, através de expressões faciais e tom de voz, posturas e gestos, acabamos por ressoar uns com os outros, dando-nos sentido graças a um “nós” que engloba muito mais do que as nossas pequenas identidades.

Nos ajuda a aceitar o desconforto

Atualmente, além de sublinhar a importância do contexto segundo as premissas de Langer, a importância dos processos de autocompaixão está cada vez mais sendo enfatizada.

Emoções desagradáveis ​​fazem parte do repertório natural das emoções humanas; entretanto, muitas vezes nos bloqueamos e passamos a pensar em círculos para evitá-los. Afinal, o que aconteceria se experimentássemos essa emoção novamente? Talvez pudéssemos entender que sua “missão” não é ficar para sempre e que, da mesma forma que chegou, vai embora. Algo tão simples de explicar pode, no entanto, ser muito difícil de alcançar.

Se uma amiga problemática viesse até nós, provavelmente a ouviríamos, convidá-la-íamos a trazer à tona quaisquer pensamentos sombrios em sua cabeça e ofereceríamos um ombro para ela se apoiar. Quantas vezes estamos dispostos a fazer o mesmo conosco?

Graças à meditação, tentamos aceitar as experiências e as reações que elas causam como naturais, normais. O esforço de não valorizá-los e aceitá-los sem mais significa que não os rejeitamos: percebe-se que desconforto, raiva ou aborrecimento não é algo de que se deva fugir, mas que é parte inalienável da experiência humana de. a vida.

Este princípio contradiz em grande parte certos tipos de mensagens que são transmitidas socialmente e até mesmo da prática profissional da psicologia: o desconforto é contraproducente, a ansiedade deve ser reduzida, o estresse deve ser controlado, os pensamentos negativos devem ser limitados …

Quando experimentamos prazer, nos apegamos a ele porque queremos mais. Quando sentimos dor, tentamos evitá-la. Mas o problema de tentar evitar a dor é que é uma tarefa impossível; além disso, muitas vezes é piorado por nossos esforços para evitá-lo.

Seria, portanto, sobre nos libertar do automatismo de comportamentos arraigados e respostas de rotina e quebrar ciclos emocionais reativos nos quais tendemos a ficar presos. A análise psicológica budista considera que a desidentificação em relação aos nossos processos mentais e emocionais é o verdadeiro antídoto para a ansiedade.

É dentro de nós que devemos buscar gentilmente nosso próprio poder de cura, o remédio contra todos os medos que mais cedo ou mais tarde dominam todas as pessoas.

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