Descubra os alimentos que usam vírus para curar a microbiota

Claudina navarro

Certos alimentos estimulam o crescimento de vírus intestinais benéficos que destroem bactérias potencialmente patogênicas e regeneram a microbiota intestinal.

Certos alimentos são capazes de regenerar a microbiota intestinal. Eles podem aumentar a variedade desejável de espécies de bactérias que o compõem, reduzir populações potencialmente patogênicas e estimular as benéficas.

Sabíamos que alimentos ricos em fibras, principalmente em polissacarídeos como a inulina, alimentavam-se de bactérias benéficas, mas existe outra forma de modificar positivamente a microbiota: estimular a multiplicação de um tipo de vírus - bacteriófagos ou simplesmente fagos - que hospeda na mucosa intestinal, onde infectam e destroem bactérias potencialmente patogênicas.

Estamos acostumados a pensar que os vírus são sempre perigosos, como até alguns anos atrás pensávamos nas bactérias, mas esses vírus desempenham funções muito positivas para a nossa saúde.

Pesquisadores da San Diego State University analisaram a ação sobre os fagos e a microbiota dos alimentos com conhecida atividade antimicrobiana. Eles descobriram que alguns deles estimulam fagos, causando primeiro uma interrupção do crescimento de certas bactérias e, em seguida, um declínio drástico em suas populações.

Alimentos que controlam bactérias patogênicas

Os alimentos com maior efeito sobre as populações de fagos e bactérias são o mel, a árvore do chá e a uva-ursina. Em seguida, com um efeito importante, mas menor, vêm o alcaçuz, a estévia, a pimenta tabasco, o orégano, a canela, o cravo-da-índia, o ruibarbo e a romã. Cada um desses alimentos e plantas pode ter um efeito específico sobre uma determinada bactéria patogênica.

Um dos pesquisadores, o biólogo molecular Lance Boling, diz que "certas doenças podem ser tratadas ajustando a comida que comemos". Boling se refere a doenças digestivas, como doença de Crohn e síndrome do intestino irritável, e também a outras relacionadas ao estado da microbiota, como distúrbios metabólicos, como obesidade ou diabetes, distúrbios do humor, distúrbios neurodegenerativos, como Alzheimer e certos tipos de câncer.

Os alimentos citados e os princípios ativos neles contidos poderiam ser usados ​​para moldar a microbiota intestinal, eliminando bactérias patogênicas específicas sem prejudicar as benéficas, segundo Forest Rohwer, pioneiro da pesquisa em virômica.

Os vírus penetram nas bactérias e as destroem

Os vírus fágicos atuam penetrando nas bactérias, replicando-se dentro delas e destruindo-as, causando a liberação de centenas de fagos de cada um, infectando outras bactérias em um efeito de bola de neve. Desta forma, as bactérias benéficas, que não são atacadas, têm espaço para se multiplicar.

Os pesquisadores alertam que o consumo moderado desses alimentos pode ser benéfico, mas não descartam que o consumo excessivo possa afetar negativamente a microbiota, dadas suas propriedades antimicrobianas. Estudos futuros terão que determinar como sua presença seria adequada na dieta de pessoas saudáveis ​​ou como usá-los terapeuticamente.

Por outro lado, o estudo, publicado na revista Gut Microbes, é um avanço no uso das propriedades antibióticas dos fagos, o que poderia ser uma alternativa aos antibióticos tradicionais no combate às bactérias resistentes.

Referência:

Lance Boling al. "Dietary profhage inducers and antimicrobials: para ajardinar o microbioma intestinal humano". Gut Microbes.

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