Por que mais e mais pessoas não estão tomando medidas contra o coronavírus?

Claudina navarro

Não usar máscara, ir a uma reunião com a família ou amigos sem proteção, comer na rua sem ter lavado as mãos … Muitas pessoas, cada vez mais, não cumprem as regras e recomendações para evitar o contágio. Por quê?

Conforme a pandemia se aproximava do Reino Unido, o primeiro-ministro Boris Johnson disse que a população não suportaria confinamento estrito por meses e que a única opção era o contágio progressivo até que a 'imunidade de rebanho' fosse alcançada (quando por perto 70% da população adquiriu anticorpos). No entanto, quando as mortes aumentaram, a opção de fechar a boca em casa e usar máscara tornou-se razoável.

Em outros países europeus, quando a situação se deu conta, foram estabelecidas medidas rígidas de confinamento, mas quando o número de mortos diminuiu (na Espanha, a partir de certo momento, as mortes diárias deixaram de ser relatadas), as autoridades eles transmitiram implicitamente a mensagem de que um retorno à normalidade era necessário porque o confinamento prolongado não podia ser sustentado.

E a população entendeu que as medidas de prevenção podem ser relaxadas. Poucas semanas após o pico de mortes, muitas pessoas abandonaram a máscara e o distanciamento social, por mais que especialistas e autoridades sanitárias avisem que o vírus ainda está lá fora.

Tanto no Reino Unido como no resto da Europa, no fundo, tem prevalecido a ideia de que não é possível manter medidas preventivas que representem uma alteração de costumes e, portanto, um sacrifício.

O que mudou? Antes havia medo do desastre

A ameaça ficou clara em março e abril. Não parecia ser nada mais no mundo, exceto o vírus COVID-19. As telas estavam cheias de imagens do transbordamento sanitário na Espanha e na Itália ou do enterro de cadáveres em uma ilha fantasmagórica isolada em Nova York. Sirenes uivaram pelas ruas. Tudo isso não está mais nos celulares, nem nas televisões, nem na nossa realidade imediata.

Porém, em outros países, como Brasil ou Chile ou os próprios Estados Unidos, a epidemia está agora no seu pior. Ameaça Portugal e há surtos na Alemanha, países que conseguiram minimizar a gravidade da primeira vaga. O vírus ainda está aí ameaçando, mas nem queremos mais vê-lo. E não temos vacina ou tratamento eficaz. Este é o panorama.

Os sinais mistos

O pesquisador comportamental britânico Nick Charter, da Universidade de Warwick, acredita que as ações são capazes de sustentar medidas rígidas pelo tempo que levar meses, se acharem que vale a pena.

Mas, para isso, a comunicação de políticos e especialistas deve ser realista e consistente, não deve ter medo do erro, deve reconhecer os erros. Charter lembra os discursos de Churchill durante a Segunda Guerra Mundial. Nada a ver com as mensagens contraditórias que as autoridades políticas e científicas nos transmitiram.

Como você escreveu em um artigo no The Guardian, eles enfraqueceram a motivação individual e reduziram a pressão social.

Seu próprio comportamento tem que compensar

As pessoas seguem as regras e aceitam restrições quando vale a pena. Esse é o "paradigma Campbell", desenvolvido pelo psicólogo Florian Kaiser, da Universidade de Magdeburg. Ele dá como exemplo os sacrifícios que um montanhista está disposto a fazer para chegar ao cume.

Durante a fase mais difícil do confinamento, as pessoas aceitaram as regras por diferentes motivos: alguns temiam por si mesmos, outros por seus entes queridos ou outros. Ficar em casa, fechar, esses eram os custos que a maioria estava disposta a aceitar.

Agora, no verão, o cálculo não funciona mais porque muita gente deixou de entender as regras: se dizem que a situação melhorou, não deveriam mais ser necessários, se meu vizinho não usa máscara e nada acontece, por que o eu vou levar?

Há uma resposta rápida para a questão de por que nos colocamos em risco: fazer a coisa certa é difícil quando as consequências de fazer a coisa errada não são imediatas. As autoridades nos dizem que o pior já passou. É o suficiente para tornar o relaxamento a norma.

Os jovens são particularmente propensos a quebrar as regras. Eles precisam de experiências emocionais intensas, de descobrir o mundo e o confinamento significa um adiamento insuportável desses desejos, explica o psicanalista vienense Hemma Rössler-Schülein. Na verdade, o que é proibido ou perigoso atrai os jovens e quebrar as regras dá um grande prazer.

O cérebro decide muito rápido, muito rápido

Sabemos pela neurociência que tomamos decisões em milissegundos. Um comportamento não é consequência de uma reflexão racional, mas a posteriori procuramos argumentos racionais para o justificar. É assim que o neurocientista Friederike Fabritius o explica. Na ciência, isso é chamado de "viés de confirmação". Acreditamos no que nossa decisão confirma.

Na situação de pandemia, por exemplo, isso significa que tomamos uma decisão muito rápida sobre se as medidas preventivas individuais devem ou não ser mantidas e a partir daí contamos com os argumentos que nos convêm. Não uso máscara porque o vírus não é tão perigoso, já não está causando vítimas ou, na realidade, tudo foi uma grande invenção.

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