A poluição pode promover o autismo

Claudina navarro

Um estudo financiado pela União Europeia descobriu que a mistura de agentes químicos pode promover transtornos do espectro do autismo e que o risco está sendo esquecido.

A mistura de substâncias químicas artificiais com efeitos no sistema hormonal a que todos estamos expostos produz um efeito mais prejudicial no cérebro do que se conhecia anteriormente.

De acordo com uma pesquisa liderada pelo Instituto Karolinska em Estocolmo, o coquetel de desreguladores endócrinos pode favorecer os transtornos do espectro do autismo, assim como a deficiência intelectual.

Cientistas das sete universidades suecas, cinco europeias e uma americana que participam no projeto EDC-MixRisk, financiado pela União Europeia, consideram que as leis e a avaliação de risco atualmente seguidas não são capazes de descobrir todos os danos causados ​​por poluentes ambientais.

Existem pelo menos duas razões pelas quais os riscos estão sendo negligenciados. Segundo esses pesquisadores, a toxicologia se baseia na exposição a substâncias individuais, quando na verdade estamos expostos a uma combinação.

Coquetéis químicos agem durante a gravidez

Por outro lado, a ação do coquetel durante a gravidez não está sendo adequadamente estudada. O efeito dos desreguladores endócrinos durante a fase fetal é “especialmente preocupante, pois pode causar alterações irreversíveis no desenvolvimento de órgãos e tecidos e aumentar a vulnerabilidade a patologias em fases posteriores da vida”, explicam.

No projeto EDC-MixRisk, eles tentaram corrigir essas deficiências por meio de uma nova abordagem, baseada na identificação e teste de misturas de produtos químicos artificiais relacionados a efeitos adversos à saúde.

Os cientistas utilizaram um banco de dados epidemiológico de mais de 2.300 mulheres grávidas (a chamada coorte SELMA), criaram misturas químicas semelhantes às encontradas em mulheres grávidas e as testaram em culturas de neurônios e animais de laboratório.

Eles descobriram que os desreguladores endócrinos, em concentrações semelhantes às da vida real, interferem nas redes neurais e na expressão de genes relacionados a distúrbios do espectro do autismo e deficiência intelectual.

Eles interferem com a glândula tireóide

Eles também puderam verificar que os coquetéis químicos atuam na tireóide e em genes cuja expressão depende do hormônio tireoidiano. Essa pesquisa específica foi realizada pela equipe da professora Barbara Demeneix, da Universidade de Paris (Sorbonne).

"O hormônio da tireóide é essencial para o desenvolvimento do cérebro e os filhos de mães com deficiência desse hormônio têm um risco aumentado de sofrer de um transtorno do espectro do autismo ou de baixo QI", disse Demeneix.

O professor Åke Bergman, coordenador do projeto, explicou que “o uso de misturas nos permitiu estabelecer o número de mães que estão em risco de que seus filhos sofram de distúrbios do desenvolvimento neuronal e sexual, metabolismo e crescimento”.

Desreguladores endócrinos

Os ingredientes do coquetel químico estudado são substâncias como ftalatos encontrados em plásticos macios e em produtos cosméticos, pesticidas agrícolas ou retardantes de chama com os quais muitos bens de consumo são tratados (de eletrodomésticos a colchões e móveis).

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