A previdência social discrimina pacientes com sensibilidade central

Ana montes

170 associações de pacientes com fibromialgia, fadiga crônica, sensibilidade química e eletrossensibilidade denunciam que a Previdência Social discrimina suas doenças e viola seus direitos.

O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) publicou um guia com ciência desatualizada, que discrimina pacientes com doenças que afetam a "sensibilidade central", como fibromialgia, síndrome da fadiga crônica, sensibilidade química múltipla e eletrossensibilidade.

Isto tem sido denunciado com concentrações em várias cidades de Espanha pelas 170 associações que representam estes doentes, que para além da doença sofrem o calvário da peregrinação de consulta a consulta médica durante anos até encontrarem um profissional com conhecimento suficiente do seu problema.

A publicação da segunda edição do "Guia de atualização sobre a avaliação da fibromialgia, síndrome da fadiga crônica, sensibilidade química múltipla, eletrossensibilidade e transtornos somatoformes" levantou a voz de todos os afetados, que a consideram um perigo devido ao seu tremendo falta de rigor científico e porque viola direitos fundamentais.

As 170 associações que representam os enfermos, unidas na coalizão CONFESQ, coletaram até 25.000 assinaturas de apoio e pedem sua retirada imediata e posterior revisão porque o guia não inclui estudos científicos importantes atualizados e validados internacionalmente. O guia fornece aos médicos orientações clínicas que estão 20 anos atrasadas em relação aos tratamentos mais atuais, o que representa um risco para sua saúde.

Os afetados levarão a Previdência Social à Justiça para divulgação de guia anticientífico

“Não se pode permitir que a Administração divulgue um documento que não seja científico (…) pois pode colocar em risco a vida e a saúde dos atingidos”, explicou o advogado Jaume Cortés, do Coletivo Ronda, que iniciará contencioso administrativo perante o Tribunal Supremo.

Essa empresa já apresentou em juízo mais de 1.000 casos sobre essas doenças, ganhando 82% das sentenças. Cortés acredita que a publicação do guia pode ser uma tentativa do governo de interromper essas sentenças. Outro motivo é o interesse das indústrias química e de telecomunicações para que os efeitos nocivos de suas atividades não sejam divulgados.

O guia do INSS não contava com os especialistas das doenças que avalia

Nessas doenças "sensibilizadas centralmente", todos os sistemas (endócrino, circulatório, nervoso, digestivo e imunológico) são afetados. Por isso, seu complicado diagnóstico os obriga a vagar anos de consulta em consulta até encontrar um especialista que saiba reconhecê-los.

Alguns pacientes podem ser afetados pelas quatro doenças, que também compartilham alguns sintomas e podem ser muito incapacitantes, a ponto de impedi-los de trabalhar e levar uma vida normal.

No entanto, o guia ignora toda essa complexidade e, de maneira inédita, para sua elaboração não contou com os afetados, nem com os especialistas das sociedades médicas que os representam, embora seja distribuído entre médicos de atenção básica por ajudá-los a determinar deficiências temporárias de trabalho.

“Além disso, utilizou-se bibliografia desatualizada e insuficiente”, denunciou María José Félix, presidente da CONFESQ.

As doenças de sensibilização central não são somatoformes

Outra infração do guia do INSS é classificar essas doenças como "transtornos somatoformes", o que é uma forma de dizer que respondem a uma doença mental, que não responde às evidências científicas atuais, explicou o presidente da CONFESQ.

Esta definição errônea obriga os médicos de atenção primária a encaminhar muitos pacientes (95% das mais de 2.000.000 pessoas que sofrem deles na Espanha são mulheres) para serviços de psiquiatria e psicologia. Este é o caminho que muitos pacientes são obrigados a seguir, o que impede a realização de exames médicos objetivos já existentes para identificar o tipo de doença que padecem, e também impede o tratamento adequado.

Tratamentos imprudentes para ignorar patologias emergentes

Os enfermos já representam 5% da população, incluindo crianças e adolescentes, pois os distúrbios podem surgir precocemente. Pacientes e médicos especializados em doenças de "sensibilidade central" são a favor da criação de unidades multidisciplinares e pediátricas que ajudem a melhor atendê-los e evitar sua cronificação.

No entanto, a "imprudência" do guia do INSS propõe aos médicos que os pacientes com Sensibilidade Química Múltipla e Eletrohipersensibilidade continuem a ser expostos aos agentes que os adoecem: produtos químicos e campos eletromagnéticos. No caso dos pacientes com fadiga crônica, é urgente que façam um tratamento comportamental, que já deixou muitos pacientes acamados e em cadeiras de rodas, alertou a CONFESQ.

Os pacientes são discriminados e seus direitos são violados

Segundo Jaume Cortés, a discriminação contra esses pacientes aparece constantemente no guia ao sugerir que muitos podem simular sua doença, impedindo que direitos como a opção por licença médica e deficiência sejam reconhecidos, o que implica que eles não possam solicitar auxílio da Administração.

A discriminação também é educacional, pois afeta crianças e jovens com eletrossensibilidade que não podem acessar centros com Wi-Fi e telefones celulares.

Tudo isso significa que adultos e menores não recebem o mesmo tratamento que outros pacientes crônicos. Por isso, pedem o compromisso das propostas não legislativas apresentadas no Congresso em 13 de dezembro de 2022-2023, que preconizavam considerar essas doenças como área prioritária de pesquisa e criar unidades multidisciplinares para tratá-las.

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