Falta de afeto na infância: como nos afeta e como nos curar

Ramón Soler. Psicólogo

O cuidado e a atenção de pais amorosos fornecem a melhor base para a construção de uma personalidade equilibrada. Se em nossa infância não recebemos esse apoio, crescemos com deficiências emocionais. Não temos que deixá-los continuar a nos prejudicar: podemos nos libertar deles.

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Quando em terapia analisamos os distúrbios psicológicos mais difundidos na população (ansiedade, fobias, depressão, etc.), verificamos que a causa subjacente da maioria desses problemas vem de algum tipo de deficiência afetiva sofrida na infância que foi arrastada para vida adulta.

Os bebês vêm ao mundo com necessidades físicas (cuidados e alimentação) e emocionais (amor, apoio, segurança) que devem ser satisfeitas para que se tornem adultos equilibrados. O contato físico, as expressões de afeto, o sentimento de proteção ou respeito pela sua pessoa e interesses não são essenciais para a sua sobrevivência física. No entanto, eles são essenciais para seu desenvolvimento psicoemocional adequado.

Sem esse cuidado, as crianças, embora cresçam fisicamente, emocionalmente carregam sérias consequências afetivas.

Basta lembrar as imagens terríveis dos orfanatos romenos dos anos 70 e 80, em que os mais pequenos, não tendo as suas necessidades emocionais atendidas, desenvolveram comportamentos autistas.

Muitas pessoas, sem terem passado por esse abandono extremo, também carregam diferentes tipos de deficiências emocionais desde a infância. Seus pais e outros parentes, por imaturidade, inexperiência ou por suas próprias histórias pessoais de privação, não conseguiram atender às suas necessidades emocionais. Essas pessoas crescem convencidas de que suas experiências emocionais perturbadoras são iguais às dos outros. Com o tempo, quando tentam levar uma vida normal, as consequências de seus traumas se refletem no seu dia a dia, de uma forma ou de outra.

Um vazio para preencher

A necessidade primária de cuidado e carinho que não foi satisfeita pelos pais causa em muitas pessoas, ao atingir a idade adulta, uma sensação de vazio ou um espaço interior escuro que precisa ser preenchido. Para tentar obter um momento de satisfação que preenche o abismo, surgem obsessões, vícios ou vícios por pessoas tóxicas.

Qualquer elemento externo (relacionamentos, objetos ou trabalho) pode criar a ilusão de preencher esse vazio, mas tentar preencher o abismo a qualquer custo pode acabar desencadeando consequências terríveis.

Por exemplo; Um vício obscurece momentaneamente a dor, mas é uma armadilha e é difícil escapar dela; Um pouco de atenção amorosa pode nos preencher momentaneamente, mas nos deixa presos e indefesos quando se trata de nos proteger de um relacionamento tóxico. Além disso, como acontece com qualquer vício, a sensação de plenitude é momentânea: uma vez que seu efeito passa, o vazio ainda está lá.

Como curar feridas da infância por dentro

Embora seja impossível mudar o passado, todos temos o poder de intervir tanto no presente quanto no futuro. Para isso, devemos nos concentrar em nós mesmos e nos esbanjar no cuidado que tanto nos faltou na infância. Devemos nos lembrar que não somos mais aqueles pequeninos indefesos diante da vida: agora podemos cuidar de nós mesmos e não precisamos ser cuidados e cuidados de fora.

Assim, para curar as privações emocionais da infância, temos que começar mudando o significado da busca pelo amor.

Não se trata de encontrar alguém de fora para nos dar a atenção e o carinho que não tivemos na infância (já vimos que isso só cria uma dependência insana), mas que devemos ser nós que começamos a nos contemplar com ternura e compaixão. . Nós mesmos somos os que melhor podemos oferecer a nós mesmos o verdadeiro amor incondicional.

Leva tempo; Não podemos curar o vazio de uma vida inteira em um dia. Às vezes, o dano causado é tão profundo que é necessário buscar ajuda profissional para reconstruir a autoestima perdida. Aos poucos, assumindo a realidade do passado e trabalhando a partir dos pequenos detalhes do dia a dia, podemos começar a resgatar o nosso próprio amor.

Quando você se conecta com você mesmo e começa a se amar, ocorre uma mudança interna efetiva e permanente. Você sempre estará presente em sua vida, cuidando de si mesmo. O abismo desaparece, o vazio é preenchido e, a partir desse momento, nada nem ninguém pode desviá-lo do seu caminho.

Chaves para uma vida emocional saudável

A maioria de nós carrega algum tipo de deficiência emocional desde a infância que, hoje, ainda nos machuca. Que medidas podemos tomar para minimizar seus efeitos e desfrutar de uma vida emocional mais saudável?

  • Não subestime isso. O primeiro passo para a cura é assumir e valorizar a relevância das deficiências sofridas no passado. Muitas pessoas dizem: "Bem, não foi tão ruim" ou "Afinal, cresci e sou um adulto". Porém, não podemos esquecer que quando éramos pequenos essa falta de cuidado nos prejudicava e que a dor ainda persiste. Sejamos honestos conosco mesmos e nos perguntemos: "Essa carência emocional realmente não me afeta?", "Será que estou procurando nos outros ou em outras coisas o amor que não obtive na minha infância?"
  • Não culpar, mas reconhecer. Não se trata de culpar os pais ou outros membros da família por não saberem como cuidar de nós no passado. Certamente, eles também foram vítimas de deficiências emocionais e cuidaram de nós da melhor maneira que puderam. No entanto, temos que estar do lado da criança que fomos para reconhecer o que nos faltou e, assim, sermos capazes de nos concentrar na cura.
  • Foco na solução. Não importa o quão difícil tenha sido nossa história, não adianta chafurdar no negativo. Depois de reconhecer o que aconteceu, não devemos esquecer que sempre há esperança e oportunidade de nos curarmos e nos livrarmos das consequências das deficiências sofridas.
  • Cuide de nós mesmos. Se estivermos continuamente esperando que alguém venha e preencha nossas carências emocionais, sempre dependeremos dos outros e nunca seremos felizes. Lembre-se: você é a pessoa que melhor pode amá-lo e que sempre estará com você.

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