“O Sr. Suzuki, ao contrário dos tomates, baleias e galinhas, é um ser humano”, caracterizado por um telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor, que cultiva tomates. Na Ilha das Flores há poucas flores, mas muito lixo, é um dos aterros sanitários de Porto Alegre. Se eu contar a você que o curta conta o que acontece com um dos tomates do Sr. Suzuki até chegar à Ilha das Flores, você provavelmente pensará: "Oh, que história emocionante!" Pois é, uma história emocionante que Jorge Furtado nos conta neste pequeno documentário, em que em apenas 12 minutos nos dá uma lição magistral de como funciona o nosso mundo.
Feito em 1989, ganhou, entre outros prêmios, o Leão de Prata de melhor curta-metragem de Berlim, iniciando uma carreira de sucessos e excelentes críticas, mas, como é comum em curtas e documentários, não é fácil vê-lo com boa qualidade, e na telona nem falamos. Este é um excelente exemplo, entre tantos, de trabalhos que só podemos desfrutar graças à existência da Internet, aquele lugar onde se aninham criminosos e piratas de todo o tipo.
O filme não nos diz nada que não saibamos, mas o faz com tanta graça, com um ritmo tão vertiginoso e usando definições ortodoxas de forma paródica, que não conseguimos tirar o sorriso da boca. É como "o contratante da primeira parte", que embora saibamos o que vem a seguir, ainda rimos.
Mas o fato é que entre o riso e o riso estamos redescobrindo uma realidade que não é muito bonita, conceitos como dinheiro, trabalho, comércio, lucro, lixo, propriedade … e o "monstro" começa a se manifestar. E também redescobrimos que o "monstro" não é alimentado (apenas) pelos patrões e gerifaltes planetários, mas precisa do Sr. Suzuki e seus tomates, e de Dona Anita e seus perfumes, e do dono dos porcos … E assim, o O filme faz uma pausa no ritmo para nos dar a oportunidade de digerir nosso lixo de seres humanos com telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor. E enquanto descansa, a digestão nos faz perder o sorriso e a emoção aumenta até o fim, com uma citação de Cecília Meireles: 'liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não tem quem explicar e ninguém que não explique. na loja'.De fato, um final curioso, porque em uma obra extremamente explícita dificilmente um final mais aberto poderia ter sido alcançado.
É claro que o formato que ele usa teve notável influência em um bom número de documentários posteriores, e especialmente nos de Michael Moore, não só porque ele usa o humor para nos contar assuntos muito sérios, mas também pela maneira como usa imagens de arquivo, gráficos e animações para ilustrar o discurso, bem como para o ritmo acelerado da narração. Embora também seja verdade que existem antecedentes, como o fantástico 'The Atomic Cafe'.
Se você ainda não viu, não perca.
E um desejo: que você nunca olhe para trás dos porcos.
Texto via: SoloparaGourmets
Salve