Quem tem medo de praia, vai, vai?
O mesmo olhar com que julgamos e incomodamos os outros por suas estranhezas é o que nos incomoda com as nossas. Nós mudamos isso?
Caros Insane Minds,
A mais de 40 graus, corro para fora da praia para começar a escrever, um sinal claro de que algo está errado. Fui lá verificando a lista de presenças, com meu papel e minha caneta, para ver quem está no mundo, no dia a dia, no metrô, na rua, mas não está na praia. E eu não recebo as contas.
Vamos revisar minha lista.
- Todas as pessoas que eu vi tinham dois braços, duas pernas … Não vi cicatrizes grandes, nem pessoas em cadeiras de rodas, nem mastectomias, nem nada parecido. Onde estão todos aqueles corpos que existem, mas não se foram? Eles não são quentes?
- Não vi nenhuma mulher com pelos corporais ostentosos …
- Eu vi, sim, uma única família de negros e houve um rebuliço em torno deles. Nossa, os negros também tomam sol! E risos. Isso, multiplicado por dezenas de vozes. Já me olhei, de origem celta como eu, ruiva, branca como leite e muito sardenta. Eu deveria ser o indicado porque, com a minha pele, a praia é um exercício de alto risco: queimo muito antes de chegar à areia. Mas isso não conta …
- Eu vi um corpo trans
- Eu não vi meus amigos muçulmanos que querem tomar banho coberto com um maiô de lycra totalmente certificado e isso não deve ser um problema para ninguém. É fresco, seca muito rápido, é tão higiênico quanto qualquer outro, evita queimaduras e não contamina a água com cremes solares. Mas meus amigos estão cansados de ser o centro das atenções e têm medo de serem insultados.
E todos nós sabemos que temos A depilação não é uma alternativa: tornamo-la uma obrigação. Quantas vezes você não teve tempo de depilar e, diante da perspectiva de ir tomar um banho peludo, desistiu e ficou em casa, suando a gota de gordura?
, que na verdade me acompanhou. Um homem com seios. E todo mundo estava olhando para nós. Algumas pessoas até se levantam para ver melhor ou nos seguem até a água para ter uma perspectiva melhor. Então, sempre.
Eu poderia continuar, mas deixo a lista para você terminar, Mente, se quiser.
A praia, a piscina, o rio, o lago, o pântano ou o que quer que seja, devem ser um lugar para ir para relaxar, se refrescar e passar uma tarde aceitavelmente calma. Mas não é. E o pior é que cada um de nós transformou aquele espaço em um desastre. Um desastre para os outros e para nós mesmos.
Porque o desconforto que geramos nas estranhezas alheias é o mesmo que legitima que os outros nos olham com estranheza. Já imaginou ir à praia com alegria, amando nossos corpos como são pelo simples fato de serem nossos corpos? Você pode imaginar parar de fofocar, parar de apontar, parar de comentar? Você pode imaginar estar ciente dos danos que causamos?
Bem, queridos Insane Minds, depende de nós. Você apenas tem que vestir.